No documento enviado ao Supremo, assinado pelo ministro André Mendonça, a AGU argumentou que há "indicativo" de que Pazuello poderá ser constrangido na CPI, "no sentido de se buscar uma confissão de culpa que seria imprópria e inadequada no Estado Democrático de Direito".
A AGU disse ainda que Pazuello é alvo de inquérito sobre a crise no Amazonas e, assim, há possibilidade de que uma manifestação dele na comissão possa interferir em sua defesa no processo.
"Qualquer manifestação feita pelo depoente à CPI, independentemente de seu conteúdo, possui o risco de interferência no seu direito de defesa nesses procedimentos", argumenta a AGU.
Também foi citado o depoimento do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Para o ministro do governo Bolsonaro, "foi exigida a emissão de juízo de valor ou opiniões pessoais do depoente".
Senadores indagaram Queiroga sobre diversos temas por cerca de 8 horas, e o ministro evitou responder a uma parte dos questionamentos.
Após a decisão, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou à GloboNews que é uma "pena" o Supremo ter tirado a "oportunidade" de Pazuello de "esclarecer os fatos".
“É uma pena que o Supremo, que ordenou que o Senado abrisse a CPI, e o mesmo Supremo tira a oportunidade de a pessoa que mais tempo passou no Ministério da Saúde durante a pandemia, que poderia ter ordenado a compra de vacinas, esclarecer os fatos", disse.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou em uma rede social que "é assim que funciona a democracia".
"Mas esperamos que ele [Pazuello] tenha ciência de que seu depoimento não é o único meio que buscaremos para elucidar essa tragédia que ocorre no país", acrescentou.
À GloboNews, o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que a decisão "prejudica", mas que a CPI não pretende recolher provas contra Pazuello. "Ele não é investigado e, sim, testemunha. Queremos que fale sobre erros de terceiros no enfrentamento à pandemia. Com relação a erros do Pazuello, ao longo dos trabalhos, outras pessoas certamente falarão", afirmou Renan.
Em 29 de abril, a CPI da Covid aprovou a convocação de Pazuello, o que obriga o ex-ministro a comparecer à comissão. Na ocasião, o depoimento foi marcado para 5 de maio.
No entanto, um dia antes do depoimento, em 4 de maio, Pazuello informou ter tido contato com duas pessoas que contraíram Covid e que, por isso, deveria permanecer de quarentena. Diante disso, pediu para prestar depoimento por videoconferência ou para adiar sua ida à CPI. O depoimento, então, foi remarcado para o próximo dia 19.
General do Exército, Pazuello comandou o Ministério da Saúde entre maio de 2020 e março de 2021 e o depoimento dele é um dos mais aguardados por integrantes da CPI.
A gestão de Pazuello foi marcada por uma série de polêmicas, entre as quais:
- recordes sucessivos no número de mortes por Covid;
- recomendação de medicamentos e tratamentos ineficazes contra a Covid;
- crise no fornecimento de oxigênio para hospitais;
- atraso na compra de vacinas.
Além disso, Eduardo Pazuello é investigado por suposta omissão no enfrentamento da pandemia no Amazonas. A apuração tem como foco o colapso da saúde em Manaus. O Ministério Público Federal diz que o então ministro sabia do iminente colapso no abastecimento de oxigênio.
Fonte: G-1