A pesquisadora Maila Ambrósio, 28, perde a conta quando questionada sobre quantas horas passa diariamente diante das telas. “Quanto tempo? Acho que desde a hora que acordo até quando vou dormir”, confessa ela, que além de trabalhar diante delas, também costuma ter os momentos de lazer frente ao computador ou a TV. A necessidade e o costume de recorrer às telas para diferentes atividades, porém, vêm acompanhadas de sintomas desagradáveis aos olhos. Vermelhidão, diminuição e secura são alguns dos sinais que surgem quando as horas se estendem no uso dos dispositivos. Dor de cabeça também é outro incômodo sofrido por ela.
Mas Maila não está sozinha. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, cerca de 70% da população sofre de algum tipo de desconforto visual, como olhos secos e fadiga ocular, por conta do uso prolongado de dispositivos como computadores, laptops, tablets e celulares. “Eu tenho pacientes que costumam passar de 10 a 12 horas expostos às telas. Após a pandemia da Covid-19, principalmente, a gente observa que houve uma intensificação desse tempo por conta do home office e por uma mudança no estilo de vida. E quando a gente se expõe à tela, a gente pisca menos, fica muito concentrado naquela visão de perto. Tem um estudo que mostra que a gente reduz em 30% o número de piscadas nesses períodos e com isso deixamos o olho mais seco, porque é piscando que a gente distribui o filme lacrimal, e a lágrima tem muitos fatores protetores para o olhos”, pontua a oftalmologista Mariana Amaranto.
Professora de Oftalmologia da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (FASEH) e preceptora de Oftalmologia Geral e Retina no Hospital de Olhos Hilton Rocha, Mariana explica que além da sensação de secura, há também um embaçamento da visão, que causa uma piora. A sensação de que há um corpo estranho nos olhos, desconforto e coceira ocular são outras queixas relacionadas à exposição a telas. Dados da Associação Brasileira de Oftalmologia também apontam que o uso excessivo de dispositivos digitais tem contribuído para o aumento de 35% nos casos de miopia entre brasileiros nos últimos dez anos.
Mariana explica que a progressão da miopia acontece porque, durante o uso das telas, trazemos toda a visão para perto – o que acontece, também, no ato de leitura frequente. Além disso, a diminuição da exposição à luz solar – dispositivos digitais costumam ser usados, principalmente, em ambientes fechados – também é outro fator que traz problemas. “Ela é muito importante para barrar essa progressão da miopia, então as crianças que se expõem menos ao sol, ficam muito mais dentro de casa e concentradas nas telas, vão ter a progressão do problema favorecido”.
O uso prolongado de dispositivos digitais pode causar o que é conhecido como fadiga ocular. “Temos que pensar que quando estamos em frente à tela, mantemos o olhar fixo, então toda a musculatura ocular fica contraída para que a gente faça esse movimento de fixação, só que fixar o olhar por um período muito longo, sem fazer alternância para outras direções, faz com que a gente sinta um cansaço visual, o que chamamos de síndrome da fadiga ocular”.
Para evitar essas situações, a oftalmologista orienta que as pessoas utilizem o que ela chama de regra de 30-30. “Gosto muito de deixar para os meus pacientes algo prático que ele possa recorrer, então falo sobre a regra de 30-30: 30 minutos de tela e 30 segundos olhando o horizonte. Essa é uma medida que é eficaz e segura. Ela vai gerar um conforto e vai auxiliar na lubrificação, lembrando ainda que a lágrima não só ajuda na refração, que é enxergar melhor, mas também na função de proteção, porque ela tem anticorpos. Um olho seco é um olho mais vulnerável, mais predisposto a infecções, a desconforto, a vermelhidão”, afirma.
O uso de lubrificantes também é recomendado, principalmente para combater a secura nos olhos. “É bom deixar um pertinho do computador para que durante as pausas no trabalho ou pelo menos de duas a três vezes ao dia, ele possa ser usado. Mas assim como outras medidas, essa frequência pode ser variada porque precisamos avaliar o paciente, entendendo se ele está com o olho seco em um grau moderado ou grave, porque dependendo da classificação vamos propor tratamentos mais intensos ou não”, pontua.
Os tão indicados filtros azuis nas lentes também podem ser utilizados, mas Mariana pondera que ainda não existem estudos mais robustos que mostrem que ela previne doenças nos olhos ou que protegem a retina de doenças degenerativas. “Mas muitos pacientes que usam esse filtro relatam que ele traz conforto em relação ao uso de telas, então a prescrição ou não deve ser conversada com o médico”, conclui.
Fonte: Jornal O Tempo