O Congresso quer R$ 11 bilhões para resgatar o orçamento secreto e distribuir o dinheiro por meio de outro mecanismo em 2024: as emendas de comissão. Para inflar os recursos em ano de eleições municipais, os parlamentares devem tirar dinheiro dos ministérios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), vitrine do governo petista.
O orçamento secreto, revelado pelo Estadão, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para o ano que vem, o Congresso escolheu uma nova rubrica orçamentária para destinar dinheiro a redutos eleitorais: as emendas de comissão. A operação, no entanto, segue o mesmo modelo: recursos indicados por parlamentares sem a devida transparência e pagos pelo governo federal sem planejamento e equilíbrio regional.
Relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), apresentado pelo deputado Danilo Forte (União-CE) nesta quinta-feira, 7, determina que o Orçamento de 2024 tenha R$ 11 bilhões de emendas de comissão liberados pelo governo Lula logo no primeiro semestre, antes das eleições. Além disso, o governo deverá efetuar o pagamento onde o parlamentar mandar, independentemente da prioridade dos ministérios.
O modelo, expresso no relatório, segue o mesmo rito do orçamento secreto: ofícios encaminhados para os ministérios, que efetuam o pagamento. Agora, porém, o procedimento vai ser centralizado nas comissões, por meio dos presidentes de cada colegiado, e não mais no relator-geral do Orçamento. Ainda assim, a influência dos presidentes da Câmara e do Senado, que comandam a eleição das comissões, permanece forte.
O relatório de Danilo Forte também diz que, se o governo tiver alguma dificuldade financeira e precisar cortar recursos do Orçamento ao longo do ano, terá que dar tratamento igual entre os recursos dos parlamentares e as despesas da Esplanada. Ou seja, para cada um centavo que cortar das emendas, terá que tirar dinheiro dos ministros e do PAC na mesma proporção. A medida foi antecipada pelo Estadão.
Com toda a engenharia do Legislativo, o valor das emendas parlamentares deve beirar R$ 50 bilhões. O valor reservado pelo governo Lula atualmente é de R$ 37,7 bilhões. A quantia final ainda não está fechada e só deve ser conhecida durante a votação do Orçamento, no fim do ano.
O que são emendas de comissão?
As emendas de comissão são recursos indicados pelas comissões permanentes da Câmara e do Senado no Orçamento da União. A Comissão de Educação, por exemplo, indica verbas para construção de escolas. A Comissão de Saúde apresenta recursos para manutenção de hospitais. A Comissão de Desenvolvimento Regional diz para onde vai o dinheiro das obras de infraestrutura em municípios. E assim por diante.
O presidente Lula enviou o Orçamento de 2024 sem nenhuma previsão de emenda de comissão no ano que vem. Para inserir os R$ 11 bilhões, o Congresso vai ter que tirar o dinheiro de algum lugar. E de onde cortar? As despesas escolhidas são os recursos de manutenção e investimentos dos ministérios e o orçamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que tem R$ 61 bilhões em 2024.
Conforme o Estadão revelou, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer emplacar emendas do orçamento secreto com o carimbo da Mesa Diretora da Casa, uma das comissões do Congresso. O parlamentar, porém, enfrenta resistências dentro da própria cúpula do Legislativo e entre líderes partidários da Câmara e do Senado, que não querem mais ficar nas mãos de Lira na hora de enviar recursos para suas bases eleitorais.
Relator do Orçamento corta verbas dos ministérios e do PAC para abrigar emendas
Outro relatório apresentado nesta quinta, o parecer preliminar da Lei Orçamentária Anual (LOA), confirma a estratégia de cortar recursos do governo para inflar as emendas. O documento, aprovado na Comissão Mista de Orçamento (CMO), autoriza expressamente o Congresso a tirar recursos dos ministérios e do PAC para aumentar o valor das emendas de comissão e das emendas de bancadas estaduais (indicadas pelo conjunto de parlamentares de cada Estado).
O espaço, no entanto, é limitado. O relator-geral do Orçamento, deputado Luiz Carlos Motta (PL-SP), fez um corte de R$ 2 bilhões no orçamento do governo Lula para encaixar as emendas. Além disso, autorizou os relatores setoriais - um grupo de 16 deputados e senadores designados para tratar do orçamento de cada área da máquina federal, como Saúde, Educação e Infraestrutura - a cortar mais R$ 4 bilhões para a mesma finalidade. Para abrigar todas as emendas que os deputados e senadores querem, mais cortes terão de ser feitos até a aprovação do projeto, no fim de dezembro.
Fonte: Jornal do Brasil