O contato entre a boca e o genital pode favorecer o surgimento de uma ou até várias ISTs. O simples toque com a pele de alguém que já tem uma doença potencializa a transmissão, como ocorre com a sífilis. No caso dos homens, o esperma que sai do pênis pode contaminar quem está fazendo o estímulo sexual.
Já as mulheres podem ter algum patógeno na lubrificação que sai da vagina. Contudo, elas são naturalmente mais suscetíveis às ISTs por causa da anatomia do órgão sexual.
O risco se torna ainda maior quando há lesões na genitália ou na boca. Na prática, quando uma pessoa realiza o ato chamado pelos médicos de cunilíngua, no qual a vagina é estimulada pela língua de alguém, ou a felação, quando o mesmo acontece com o pênis, existe o risco de transmitir alguma infecção ou doença para quem está recebendo o sexo oral.
Já a anilíngua, quando a pessoa estimula o ânus do parceiro com a própria boca, também favorece o surgimento de infecções. Uma das mais comuns é a hepatite A, que ocorre, justamente, pela transmissão de vômitos e fezes, seja por contato sexual ou consumo de alimentos ou água contaminados. Há, ainda, o risco de clamídia, gonorreia e outras doenças.
Vale lembrar que o comportamento sexual sem preservativo é que vai diferir a transmissão das ISTs.
"Na realidade, o sexo vaginal insertivo tem mais troca de fluidos corporais. O anal tem maior risco de laceração, o que facilita a entrada de vírus ou bactérias. Já o oral tem menos risco, mas quem está fazendo o ato pode transmitir e quem tem a doença ativa pode passar", reforça Ahrens.
Veja abaixo as infecções que podem ser contraídas durante o sexo oral sem proteção.
Segundo o último boletim epidemiológico de sífilis, divulgado pelo Ministério da Saúde no ano passado, no Brasil, a população mais afetada por essa infecção são mulheres, especialmente negras e jovens, na faixa etária de 20 a 29 anos.
A infecção é causada pela bactéria Treponema pallidum, que pode comprometer genitais, garganta e boca. Ela pode ser transmitida tanto no sexo oral quanto na penetração. O diagnóstico ocorre por meio da sorologia, que é o exame de sangue, ou pelo chamado VDRL (em inglês Venereal Disease Research Laboratory). Essa IST tem suas principais apresentações na forma primária, secundária e terciária.
Na primária, ocorre o surgimento de uma úlcera indolor pelo contato da bactéria da pele do indivíduo que foi contaminado. A pessoa pode ter ferimentos dentro da boca, seja na língua, bochecha ou em outra parte interna desta região. Essas lesões são chamadas de "cancro duro". "Elas podem ser indolores e até confundidas com uma afta", diz Marinho.
Quando isso ocorre, o indivíduo que fez o sexo oral no outro parceiro pode contaminá-lo até mesmo sem saber que estava doente.
"A bactéria é encontrada no sêmen ou no líquido de secreção do pênis", acrescenta Montenegro.
No caso da mulher, ela pode transmitir o agente por meio da lubrificação que sai da vagina durante o ato sexual. O risco é ainda maior quando o outro tem ferimentos na cavidade oral.
A sífilis secundária é caracterizada por sintomas mais sistêmicos e ocorre algumas semanas após a contaminação do primeiro tipo. O indivíduo pode apresentar manchas na pele e prostrações.
No formato terciário, os sintomas surgem anos depois da infecção. Mas, devido ao diagnóstico tardio, pode ocorrer o acometimento vascular e neurológico, com insuficiência cardíaca ou acidente vascular cerebral (AVC).
"Ela se torna uma doença silenciosa e vai transmitindo", reforça Montenegro.
O tratamento ocorre com antibiótico e a melhor forma de prevenção é usando camisinha feminina ou masculina.
Provocada pela bactéria gonococos, o mesmo agente da gonorreia, a infecção causa secreção nas amígdalas e garganta.
É mais comum que seja transmitida pelo sexo oral, pois há um contato direto da boca com o genital, aumentando o risco de contágio. O diagnóstico acontece pelo histórico de sintomas do paciente. Geralmente, é feito um exame retirando a secreção da garganta para visualizar o micro-organismo.
Segundo Montenegro, ainda há um tabu entre os próprios médicos em perguntar sobre a atividade sexual das pessoas. Se o compartilhamento das informações fosse mais difundido, diagnósticos tardios seriam evitados, melhorando a resposta do tratamento ao quadro, opina.
Muitas vezes, a pessoa que já está contaminada com a gonorreia pode ser assintomática e infecta o parceiro.
Como se trata de um tipo de bactéria resistente, não é todo antibiótico que vai tratar e curar o problema. Por isso, é importante uma investigação a fundo dessa IST.
"Uma amigdalite que não tem resposta, precisa suspeitar e perguntar se o paciente teve algum tipo de relação oral. Normalmente, em quem tem gonococos, eles aparecem na região genital, aí contamina o outro. Isso vale tanto para o homem quanto para a mulher", reforça o infectologista do Hospital Oswaldo Cruz.
Também causada pelo gonococos, essa IST pode provocar corrimentos uretrais e, em quadros mais graves, infecção na pelve e até infertilidade. A transmissão ocorre tanto pela penetração, quanto pelo sexo oral.
O diagnóstico é feito por meio de um exame semelhante ao da covid-19, no qual é inserido uma haste flexível (o swab) na garganta.
Os sintomas nesta parte do corpo podem ser assintomáticos e o indivíduo, muitas vezes, contamina outras pessoas sem ao menos saber que tem a infecção. Por causa disso, é ainda mais complicado quantificar a incidência dessa IST na população brasileira.
"A gonorreia não tem notificação compulsória e obrigatória. Por isso, é uma infecção subnotificada", ressalta Mario Gonzales, diretor médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
O tratamento dessa infecção sexualmente transmissível também é complicado e pode demorar, já que em alguns casos o organismo desenvolve uma resistência maior a alguns antibióticos.
Fonte: G-1