Em 9 de abril de 2021, a influência dos pastores no MEC ficou explícita em uma entrevista concedida à TV Gazeta. Na ocasião, o então ministro Milton Ribeiro foi a Goiânia exclusivamente para a entrevista com o pastor Gilmar Santos.
"Conforme nós anunciamos, está aqui conosco o ministro da educação Milton Ribeiro, a quem de antemão eu quero reconhecer a nossa dívida de gratidão pelo esforço e empenho que ele fez pra atender o nosso convite para este bate-papo e para fazer uma exposição aqui das atuações de toda sua pasta", disse Gilmar.
O pastor também agradeceu ao colega Arilton Moura, que estava nos bastidores do estúdio, por coordenar a entrevista.
Durante a entrevista, Gilmar destacou sua atuação para estreitar o relacionamento de prefeitos e secretários de educação com o ministro.
"A nossa pequeníssima cooperação, em aproximá-los do ministro e da sua equipe técnica me deixou realizado por ver que eles saíram de lá com brilhos nos olhos, entendendo que há recursos à disposição para seus municípios na área da educação e eles dependiam só de orientações de como ter acesso", disse Gilmar.
A investigação da PF culminou na operação batizada de "acesso pago", deflagrada nesta quarta-feira (22). Além de depoimentos e documentos, a PF juntou interceptações telefônicas, todas autorizadas pela Justiça.
Em uma das conversas gravadas, o ex-ministro conta pra filha que havia recebido uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL): "Hoje, o presidente me ligou. Ele está com um pressentimento novamente de que podem querer atingi-lo através de mim, sabe?". Em seguida, afirma: "Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa, sabe? Bom, isso pode acontecer, se houver indícios, mas não há porquê".
O telefonema foi no dia 9 de julho, mesma data em que o presidente Jair Bolsonaro estava com o ministro da justiça, Anderson Torres, na cúpula das américas, em Los Angeles.
O líder da oposição no senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), encaminhou para ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que já conduz um inquérito sobre outra suposta interferência do presidente na PF, um pedido para que seja apurada "a conduta de violação de sigilo e de obstrução da justiça do presidente Jair Bolsonaro"
"A partir de agora não é somente o esquema de corrupção do Ministério da Educação, é a atuação do presidente da república pra impedir a atuação da polícia federal fazendo uso de informações privilegiadas", disse Randolfe.
A oposição entende que a coincidência de datas das conversas que aparecem nas investigações da PF reforça a necessidade de apurar um segundo crime.
O juiz Renato Borelli, responsável pela investigação do ex-ministro Milton Ribeiro, decidiu enviar o caso para o Supremo porque viu indícios de interferência do presidente, que tem foro privilegiado.
As investigações devem ficar com a ministra Cármen Lúcia, que já conduziu o inquérito sobre suspeitas de desvio de recursos do MEC, quando Milton Ribeiro era ministro.
Fonte: G-1