'Eu tinha medo de dinheiro'
"Eu morria de medo de dinheiro", diz Kelly Reeves em seu blog dedicado ao empreendedorismo e ao desenvolvimento pessoal.
Ela constantemente verificava sua conta bancária com medo do que poderia encontrar. E se tinha dinheiro na carteira, também ficava obcecada em verificar constantemente se ele estava lá.
Ao mesmo tempo, não suportava falar sobre dinheiro ou ouvir outras pessoas falando.
Pagar qualquer coisa a deixava ansiosa, mesmo que fosse algo realmente necessário, como colocar gasolina no carro.
Como não pagava suas contas para não gastar dinheiro, ela caiu em um buraco cada vez mais profundo.
Reeves diz que chegou a um ponto em que teve que admitir que o que estava acontecendo com ela não era normal. Então decidiu fazer uma terapia que, de acordo com seu relato, a ajudou a enfrentar seus medos.
E mesmo que ainda esteja endividada, ela está em uma situação muito melhor do que no passado. "Estou pagando minhas contas com gratidão", escreve ela.
Uma fobia específica de gastar dinheiro "é muito rara", diz Elizabeth Sterbenz, uma terapeuta financeira de Los Angeles, na Califórnia.
Provavelmente pode ocorrer em associação com outros transtornos de ansiedade, ela explica, ou em conjunto com outras fobias.
"É por isso que é importante descobrir se estamos realmente enfrentando um caso de fobia de dinheiro ou se há algo mais por trás disso, algo mais profundo", diz Sterbenz à BBC Mundo.
"Por exemplo, isso pode ocorrer como resultado de incidente traumático do qual a pessoa pode ou não se lembrar", acrescenta.
A nível fisiológico, a pessoa que tem aversão a gastar dinheiro pode apresentar sintomas como falta de ar, taquicardia, aumento da pressão arterial, suores, náuseas, dores musculares ou diarreia, quando confrontada com a situação.
De uma perspectiva cognitiva, desenvolve crenças negativas ou ideias irracionais sobre dinheiro e se sente impotente para controlá-las.
E do ponto de vista comportamental, a pessoa tende a evitar o estímulo fóbico (no caso o dinheiro) de todas as maneiras possíveis.
Esses tipos de sintomas se repetem nos diferentes tipos de fobia com maior ou menor intensidade.
Se a crometofobia for considerada um distúrbio dentro das chamadas fobias específicas, as causas podem ser muito variadas.
Conforme descrito pela Mayo Clinic, um centro médico e acadêmico americano sem fins lucrativos, em seu site, as causas de fobias específicas podem incluir:
Tratamento
Embora existam várias alternativas para o tratamento de fobias, o uso de terapia cognitivo-comportamental é um dos mais comuns.
Algumas das ferramentas utilizadas para lidar com o problema são a "terapia de exposição" (onde o paciente é exposto ao estímulo), associada a técnicas de relaxamento e técnicas cognitivas para lidar com crenças e ideias irracionais.
"Na terapia de exposição, você precisa desenvolver uma tolerância para o sofrimento causado por gastar dinheiro", diz Khara Croswaite.
Isso pode ser alcançado, ela explica, estabelecendo pequenas metas inicialmente, como gastar R$ 5 no supermercado. Então, por exemplo, gastar mais comprando um presente para alguém especial.
"É uma repetição enfrentar o medo com o apoio de um profissional da área de saúde mental", afirma a especialista.
Por outro lado, muitas fobias estão relacionadas às narrativas que construímos em torno do objeto ou situação que nos afeta, explica Elizabeth Sterbenz.
"As histórias que contamos a nós próprios" e que nem sequer nos damos conta são muito influentes.
Podemos nos convencer de que somos incapazes de lidar com dinheiro, mesmo que não seja o caso.
Cada terapeuta tem sua maneira de abordar o assunto. A questão é que se o medo excessivo de gastar dinheiro afeta a vida normal de uma pessoa, é aconselhável procurar um especialista.
Fonte: G-1